quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Letter

Querido John,
Hoje enquanto ouvia Little Things, me lembrei de você e de como costumávamos nos divertir juntos, tocando guitarras imaginárias no ar, enquanto você dublava essa música olhando fundo em meus olhos. No fim da tarde, abríamos nosso Jack Daniels para momentos especiais e bebíamos até quase não lembrarmos nossos nomes e dizíamos que iríamos no lembrar um do outro, não importava aonde viéssemos a estar. Acordávamos no dia seguinte, jogados no tapete felpudo de minha casa, o rádio ligado sempre na mesma estação e quase sempre tocando a mesma música de bom dia enjoativa.
Mesmo cheirando a álcool, eu me lembro que você cheirava tão bem, como se acabasse de sair do banho, e sorria para mim, como se ressaca não fosse uma palavra existente em nosso mundo. Eu sempre mal humorada, você sempre me fazendo esquecer de tudo quando capturava meu olhar com seus olhos verdes, sempre tão lindos, em suas variações de tom devido à mudança do tempo.
Eu te fazia panquecas, daquele jeito que você mais gostava e depois de comermos rindo de nada, você se levantava, beijava minha testa e partia, prometendo voltar a noite, o que sempre fazia. Assistíamos filmes de ação na TV e cantávamos alguma música antes de você ter que ir embora mais uma vez.
Às vezes você estava ocupado demais, mas nunca pra mim, me lembro quando liguei chorando ao seu escritório, dizendo que Fred, meu peixinho dourado, havia morrido e você deu uma desculpa esfarrapada para escapar do trabalho e ir até minha casa, se entupir de Nutella(?) comigo. Por essas e outras era que eu te amava tanto.
Você me acostumou tão mal que, hoje em dia, mesmo depois de três meses de sua partida para Califórnia alegando que nossa amizade estava insustentável, ainda parece que a qualquer momento você chegará até a minha porta, a abrirá, usando a chave reserva que eu te dei, e dirá um sussurrado "surpresa", me envolverá em seus braços e beberemos Jack Daniels juntos mais uma vez... E então eu perceberei que você não mudou nada, só deixou a barba ficar rala o suficiente para roçar em minha bochecha, quando eu a encostar na sua. Eu farei panquecas, as suas preferidas e beberemos suco de laranja, enquanto tentamos não morrer engasgados rindo de nada. Você me abraçará, revelando nossa evidente diferença de tamanho e beijará minha testa, dizendo que nunca mais me deixará.
Convicções que eu não tenho, John, uma vez que nem um e-mail de "estou vivo" cheguei algum dia, dentro desses noventa em que você foi embora pra longe de mim, a receber, nada... Como se você nunca houvesse existido, como se você fosse uma criação minha. Se eu não tivesse nossas fotos, nem eu mesma acreditaria mais em mim. E é isso que mais dói, saber que algo tão real, já não é mais meu, e que talvez nunca tenha sido.
Esse é o adeus que eu nunca tive coragem de dizer... Adeus, meu querido John!

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