Quem era você há 365 dias?
Eu ainda era eu, essa mesma pessoa que sou no momento.
Estava sentada nessa mesma cadeira, olhando para essa mesma tela, navegando nos
mesmos sites toscos e esperando pelas mesmas coisas impossíveis.
Há 365 dias eu estava esperando pelo meu milagre de Natal,
assim como estou hoje. Eu estava contando os minutos para ser feliz, para sair,
me divertir, ver os fogos de artifício coloridos que iriam iluminar mais um
Natal, beijar os rostos daqueles que tanto amo e sorrir com alegria, porque meu
milagre de Natal teria se concretizado.
A verdade é que nem ao menos sei por que ainda espero.
Posso te dizer com certeza absoluta onde eu estava há 731
dias (até porque 2012 foi ano bissexto), eu estava aqui sentada nessa mesma
cadeira, olhando para mesma tela, visitando os mesmos sites e esperando pelas
mesmas coisas. Ao fim da noite fui esquecida, deixada debaixo de um lençol com
a luz apagada a vigiar o meu sono que não vinha. Esperei alegria, esperei
cores, esperei pessoas. Ninguém veio. Ninguém quis me fazer feliz.
E não é verdade o que dizem que as histórias são sempre as
mesmas?
Acabei minha noite acompanhada de um silêncio absurdo e um
vazio que me deixou muito incomodada. Ninguém parecia perceber que aquele
barulho baixinho vinha do meu quarto, ninguém percebeu que eu estava me
afogando.
E é por isso que eu odeio o Natal. Ele me lembra de todas
aquelas coisas que eu queria fazer e não fiz, ele me lembra de que no fundo
todos os finais são iguais e nem sempre eles justificam os meios. Ele me lembra
quão solitária uma noite pode ser.
Ele me lembra o quão solitária eu sou e o quanto isso me
destrói.
Eu passo 364 dias fingindo não me importar, mas nesse dia em
especial eu tenho uma tendência estranha de chorar até dormir.
Mas ainda tem algo sobre o Natal que me deixa aliviada, ele,
pelo menos, não me castiga tanto quanto o Ano Novo. Ah, esse sim me deprime.
Porque o Natal, pra mim, é o começo do fim. Mas o Ano Novo é
quando acaba tudo.
Só pra começar de novo.
É um martírio.
Feliz Natal!