Eu sei que você sempre odiou essa minha mania chata de
colecionar coisas. Eu sei que você odiou aquele dia em que eu organizei sua gaveta
de meias e o dia em que eu deixei seu closet alinhado por cores. Eu sei que
você nunca foi capaz de entender como uma garota tão bagunçada tem uma mania
tão aguçada de organização. Nem eu entendo, para falar a verdade.
Esses dias eu me lembrei de quando você me disse que certos
olhos refletem a alma, mas que naquela noite os meus não refletiam nada. Me
lembrei que você, quase gritando, disse que não aguentava mais minhas manias
estranhas e que achava melhor dar um tempo. Me lembrei que ao invés de chorar,
como as garotas de coração partido fazem, eu fui para casa e organizei meu
armário e minha estante de livros.
E durante toda a organização eu pensei em você.
Porque é aí que está a questão que você não entendeu e nunca
será capaz de entender: algo, em minha vida, precisa fazer sentido. E quando eu
já não faço mais sentido, procuro organizar qualquer coisa que precise ser
organizada, já que não posso - ou não consigo - fazer isso comigo mesma.
Você não entende que uma coisa tão quebrada, tão confusa,
tão bagunçada por dentro, precisa arrumar o que quer que seja que exista por
fora só para fingir que nada é desarrumado, quando o interior é tão abandonado
e dolorido. Parece que o melhor jeito de curar as feridas é ignorar que elas
estão ali, fingindo não mais as sentir.
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