quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Se o fim não foi passional, nunca a chame de ótima amiga!

Bem... O lance é que eu não gosto de me comprometer com as pessoas, ainda mais quando parecia que elas só se envolviam para ter algo o que cobrar no futuro.
Eu havia me comprometido com Ben, eu havia cedido um espaço da minha vida para ele, havia cedido um espaço até na minha cômoda - ele precisava desse espaço pra abrigar as coisas que esquecia em minha casa, o que acontecia sempre que ele ia lá.
E o que o infeliz - pra não dizer coisa pior - fez? Me trocou por uma loira que não sabe nem aonde se encontra seu umbigo, quem dirá o piercing que deveria estar nele.
Pois é, totalmente inacreditável... Inacreditável por que eu ainda não disse que havia concordado em manter uma amizade, mesmo depois do fim do namoro de quase dois anos.
Ok, agora eu disse. Mas é que ele conseguiu me levar com o papo de "não quero perder sua amizade, passamos bons momentos juntos, blá blá blá!"
Não me julgue... Ele tem uma influência muito grande sobre mim, ele foi meu primeiro namorado, meu primeiro amor... Minha primeira real decepção. Mas sua presença era reconfortante, seu perfume inebriente... Ele foi tudo o que eu sempre quis.
O problema nisso tudo era ele ter entendido "auto-ajuda" ao invés de "amizade" - entre aspas mesmo. Qual é, eu sou uma ex recentemente destruída e em processo de ganhar alguns quilos com potes de sorevete. Tudo o que queria era um tempo. Mas o cara me aparece aqui em casa chorando por causa da loira sem senso de direção apenas duas semanas depois de dizer que não aguentava mais a mentira que eu o estava fazendo viver. Please!
-Foi assim que você se sentiu quando eu te deixei?
Eu não entendia muito o que ele falava em meio a todo o choro, língua embolada, drama e acusações do mundo estar contra ele. Só sabia que ele havia visto a tal loira dando uns pegas em algum amigo esquisito dele. Ben sempre fora demasiado dramático e terrivelmente fresco. E suas companhias sempre foram horríveis, havia cansado de avisar isso pra ele.
-Como você está se sentindo?
Eu não me sentia muito à vontade em ter esse tipo de conversa com ele apenas duas semanas depois de ter meu sonho de casamento destruído. E eu estava dividida nesse momento: Metade de mim estava feliz em tê-lo frágil em minha casa, tomando o chocolate quente que eu havia preparado. A outra metade queria socá-lo por ter interrompido meu tempo de recuperação e aceitação, ter invadido meu espaço e ainda estar tomando meu delicioso chocolate quente.
-Como se ninguém no mundo gostasse de mim.
Ben fungou e quase se engasgou com o conteúdo da xícara do Bob Esponja.
-Eu me senti pior, então. Senti que você não gostava de mim. E quando eu estava com você, o mundo não me interessava. Tivemos uma relação de dois anos, você estava trocando saliva e bactérias com essa senhorita por duas semanas. Não há o que comparar!
Sim, eu estava muito brava. Muito brava! Teria sido melhor pra ele se ele não tivesse tocado nesse assunto e me feito falar algumas coisas que toda ex machucada tem vontade de falar para o ex namorado quando eles mal terminam e o cretino já está com outra. Ainda bem que eu era uma pessoa da paz e nada agressiva. Céus, então por que essa vontade de apontar um dedo na cara dele e rir como uma louca, gritando "bem feito"?
O silêncio reinou por um bom tempo, reinou entre aspas, porque ele fungava e dizia coisas nada agradáveis sobre a "outra pessoa em questão". Eu me perguntava se ele não iria embora pra eu poder, enfim, rir e chorar ao mesmo tempo e me entupir de porcarias gordurosas pra me arrepender no dia seguinte e ter que gastar meu salário em uma academia depois.
-Obrigado por me ouvir. Você é uma ótima amiga.
Se levantou de repente e me abraçou desajeitado, colocando a xícara vazia em cima da mesinha e bagunçando meu cabelo, como se eu fosse um cachorrinho com a língua pra fora esperando carinho do dono.
Eu nada disse, fiquei imóvel no sofá e ouvi a porta da sala sendo manuseada, enquanto ele desaparecia da minha residência e deixava o rastro de seu perfume no ar.
-Amiga. Ótima amiga!
Resmunguei comigo mesma, fazendo uma careta em seguida e ignorando minha cozinha abarrotada de sorvete, chocolate, lasanha pré pronta e afins, indo em direção ao meu quarto.
Sabe, de repente me deu uma vontade de jogar fora todas as coisas que ele havia esquecido na minha casa e que estavam na gaveta da minha cômoda esperando para serem devolvidas!

Um comentário: